segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Dor

Dor na alma. Dor de quem se sente incompleto.

Dor fantasma, que te assombra, te vigia, te julga, te culpa, te castiga e te maltrata.

Dor que queima, que atormenta, que te tira do rumo, te joga pro canto e te isola.

Dói por quê?

Dói por muita coisa. 

Dói, pela injustiça;
Dói, pela minha covardia;
Dói, por causa do que não fiz;
Dói, por causa também do que eu fiz;
Dói, por não falar;
Dói, por não me calar;
Dói muito.. dói de verdade.
Dói,e dóis muito, pelas humilhações e comparações.

Por fora, sorrisos. Por dentro, lamentos.


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Medo...

Tenho medo do ser humano. Tenho medo de SER humano. É isso mesmo que você, leitor e visitante, acabou de ler aqui. Tenho MEDO!

Mas ai, lá vem você e fala que “somos feitos à imagem e semelhança de Deus”, que somos todos irmãos, que estou nivelando tudo por baixo. Tudo bem, não tiro sua “razão” por pensar assim: Mas tenho motivos para crer que, infelizmente, somos apenas a imagem, pois o interior é algo totalmente oposto.

Se você já assistiu ao filme Matrix, deve lembrar-se de uma determinada passagem em que o Agente Smith, em um momento de tortura psicológica com o líder da resistência, Morpheus, faz uma análise do que é a humanidade, de seu ponto de vista. Para ele, somos como um vírus, um parasita, que infecta um determinado sistema, se espalha rapidamente, suga todos os recursos e, quando este sistema não mais o supre, segue adiante, muito parecido também com nuvens de gafanhotos.

Você pode achar que estou exagerando. Mas uma espécie que rouba sem necessidade, seja em bens palpáveis ou por corrupção, depreda o próprio meio sem pensar nas conseqüências, mata, seqüestra, explora e escraviza seria MESMO merecedora de todos os méritos divinos?

De forma geral, com certeza não. Somos uma espécie burra, que causa males a si própria, que se droga e não preza pelo seu próprio bem-estar, ou do bem-estar daqueles que nos rodeiam.
Tenho medo. Medo de um dia cair na tentação de uma dessas terríveis prerrogativas humanas.


Eu não sou perfeito, fato. Mas tento, a cada dia, olhar para cima e tentar enxergar um sentido nisso tudo. Tenho medo de que tudo isso venha a ser uma exigência humana à sobrevivência. Tenho medo de que, num futuro próximo, sejamos condicionados a aceitar a corrupção, a desigualdade, a morte a troco de nada, a covardia e tudo o mais de ruim ainda dentro do ventre materno. Tenho medo do tipo de herança que deixaremos para os nossos filhos e netos. Tenho medo. Muito medo.

Quando ando pelas ruas vejo a miséria, a fome, a desesperança. Vejo péssimos exemplos do quanto somos sujos, invejosos e impuros. Temos muito a evoluir, mas parece que por sobre nossas cabeças, paira uma nuvem de conformidade, de pessimismo. Me dói quando vejo um ser humano largado ao relento, seja entregue às drogas ou simplesmente á própria sorte. São as maiores vítimas de um “efeito borboleta”: em algum lugar do passado, algum político corrupto usou uma verba possivelmente assistencial para suprir sua ganância. Talvez aquela verba tivesse sido empregada em algum projeto educacional que, possivelmente, teria evitado que aquele ser humano, travestido em farrapos, tivesse uma vida mais digna, um futuro menos sombrio e de fim tristemente previsível.

Tenho medo, mas também tenho um pouco de alívio e muita vergonha. Principalmente quando penso “que sorte, não sou eu que estou nessa situação”. Tenho medo e tenho vergonha, quando penso em ajudar, mas não ajudo. Vergonhosamente, tenho medo de ajudar por causa da sociedade. É comum que se feche os olhos aos irmãos mais necessitados, ainda que a ajuda fosse pequena. Vergonhosamente, tenho medo do que podem pensar de mim. Podem achar que faço apenas para aparecer perante os olhos alheios, ou apenas para “ganhar uns pontos no céu”, como já ouvi. Tenho vergonha de admitir que, muitas vezes, pude ajudar mais do que pensava, mas não o fiz. Tenho medo de ser um pária aos outros, conformados, cegos pela nuvem de maldade, frieza e covardia que paira sobre nossas mentes.

Tenho medo do que vão pensar de mim após ler isso aqui. Mas tenho ainda mais medo de me transformar em mais um zumbi conformado.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Corre

Acorda.
Corre a preparar e tomar o café da manhã e sair correndo para pegar o ônibus lotado, repleto de mundinhos particulares com suas órbitas cheias de dilemas, dúvidas e problemas. Há os que se isolam com alguma leitura. Outro, com suas músicas guardadas em seu player ou celular. Alguns que conversam, interagem e outros que têm olhar perdido para o nada. Ou apenas assim se fazem.

Vai o ônibus, serpenteando pelas vias, acelerando, parando, motorista emburrado, motorista carrancudo ou, com alguma sorte, motorista educado que pensa que aquela senhora idosa precisa de um tempinho a mais pra se acomodar no assento, caso haja algum disponibilizado pelo bom senso, ou por educação.

Um segundo a mais e alguns bufam, já estressados logo cedo, pois o motorista é lento. Precisa correr para chegar no horário. Precisa correr para que o chefe, muitas vezes mesquinho e paranóico, não desconte aqueles 5 minutos a mais, inevitáveis, pois há mais ônibus, há carros, há motos e há sinais.

Segue o ônibus. E para mais uma vez. Desce o trabalhador, sobe o trabalhador. Vai mais uma vez, seguindo e parando no corre-corre incessante.

Chega o destino. Anda depressa, ou corre, para chegar ao trabalho, bater o ponto, assinar o livro e começar a rotina. Corre, pois tem serviço, tem trabalho, tem cliente esperando, tem chefe cobrando, tem colega desesperado. Tem prazo, tem hora, tem que fazer, tem que entregar.

Corre pra chegar no ponto e pegar o ônibus de volta para casa, que mais uma vez, serpenteia pelas vias. 

Para. 

Entra gente, sai gente. Entra muita gente. Lotado, mais uma vez. Anda. Para. Todo mundo tem pressa pra chegar em casa, pra ficar com a família ou apenas pra ficar sozinho, perdido com suas neuras, suas dúvidas e aflições.

E assim a semana passa correndo, pra chegar o fim de semana, que passa rápido demais. Abre os olhos e já é segunda. Piscou, segunda novamente.

E corre, corre, corre..

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cansaço

E tem aqueles dias em que a gente acorda cansado, desanimado, sem
vontade de sair da cama. Aí tudo se torna mais difícil, mais pesado,
mais complicado. A gente tem vontade de sumir, mas também tem preguiça
de arrumar as malas. Tem vontade de gritar, mas não tem força. Tem
vontade de se jogar da janela, mas não tem coragem (nem deve...). Tem
vontade de fazer um monte de coisas, mas também não tem vontade de
fazer nada.

Seu trabalho não será feito sozinho. Sua casa não será limpa por
milagre. O dinheiro não vai entrar na conta de graça. Ninguém vai
aparecer pra te puxar pelo braço, te cutucar pra te fazer levantar da
cama, organizar suas coisas ou te ajudar no trabalho.

Não...


Você tem que levantar, dar um start, usar o restinho de ânimo que
ficou perdido em algum canto, entre a noite mal-dormida e os pesadelos
pelas preocupações incessantes. O mundo não é um paraíso. Mas se a
gente não fizer alguma coisa, vira um inferno total.

Amigos...


Posso ter mil amigos, mas também posso ter apenas um;

Posso ter todos por perto, mas eles também podem estar longe;

Posso ter amigos grandes, pequenos, gordos, magros e gostar de cada um deles da mesma forma e da forma como são, assim como eles gostam de mim como sou;

Posso ter amigos brancos, negros, amarelos, gays, héteros, calmos, nervosos, agitados ou pacíficos, festeiros ou caseiros, ricos, pobres, não tão ricos, não tão pobres... mas são todos feitos de carne, osso e espírito, assim como eu, e os respeito, assim como eles respeitam a mim;

Posso ter um cachorro-amigo, mas não quero ter um amigo cachorro;

Também posso ter amigos novos, velhos, ou bem novinhos ou muito velhos, mas cada um tem sim algo a contribuir em minha vida, assim como eu tenho a plena certeza de que, em algum momento de suas vidas, dei ou darei a minha contribuição;

Posso ter amigos-irmãos e ter irmão que é amigo, mas amigos são os irmãos que Deus nos permitiu escolher;

Posso, um dia, até ter algum amigo que seja apenas interesseiro. Mas sei que essa amizade será como a espuma da onda que se esvai sobre a areia, logo que se quebra, mas posso ter amigos que queiram apenas fazer parte da minha vida, partilhar os bons – e maus – momentos, pois assim é a vida: nada além de uma grande partilha;

Posso sentir a falta de alguns amigos que já se foram para o Pai, mas também por isso, posso ficar feliz, pois sei que quando minha hora chegar, eles estarão lá pra me receber de braços abertos;

Posso um dia estar pra baixo, mas sei que algum amigo sempre surgirá para me levantar a moral, enxugar minhas lágrimas e oferecer seu ombro como apoio, assim como fiz, faço e farei sempre que a necessidade surgir;

Você pode ter tudo na vida: dinheiro, carros, casas de luxo ou uma vida de rei. Mas sem pelo menos um grande amigo, sua vida seria algo quase efêmero e sem sentido;

E há ainda o maior de todos os amigos: Jesus, que foi quem deu o maior exemplo de entrega e amor fraternal de ontem, hoje e sempre.

Viva sua vida...
Ganhe seu dinheiro...
Ame...
Tenha sua família...

Mas antes de tudo isso, tenha sempre seus amigos.

Ainda ontem...


A TV de seletor giratório que fazia o barulho ao trocar os canais, e quando o sinal ficava ruim, algum filho de Deus tinha que ir ao telhado/terraço e ficar girando até o sinal melhorar. Assistia ChacrinhaBozoSítio do Pica pau amarelo e ficava com vontade de ler a história no livro, mesmo sem saber ler ainda.

Andava de bicicleta sem capacete, sentia o gosto do chão duro, ficava com os cotovelos e joelhos ralados, mas chegava em casa, passava mercúrio cromo e volta pra brincadeira. Era a rua das crianças manchadas.

Descer a ladeira com carrinho de rolimã, feito com madeira de caixote de feira. O freio era a sola do chinelo, que as mães e pais ficavam curiosos com a rapidez com que eram gastos.

Que tal fazer "expedição" na mata próxima à cidade, catar sapos, girinos, grilos, encher os potes de maionese desocupados com insetos e guardar tudo no "laboratório", feito com galhos secos e um lençol velho, pego às escondidas da mãe pra não levar chinelada.

Arrumar taquara pra fazer pipa no quintal do vizinho, pulando a cerca, correndo do cachorro vira-lata, que ficava largado esperando a próxima perna pra mordiscar. Pedia goma na feira, pra colar o papel de seda, que a avó usava para copiar marca de pano de prato, e a linha, da máquina de costura da mãe, pra prender as varetas umas nas outras. Saía para o campo de futebol pra empinar a pipa e fazer concurso da que voava mais alto. Chorava quando o vento arrebentava a linha, ou quando alguém passava linha com cerol e a cortava. Enxugava as lágrimas e no outro dia fazia tudo de novo.

Fazia "arte", levava chinelada, apanhava de varinha de marmelo e chorava, mas no dia seguinte, estava lá, de novo, subindo no pé de jamelão, jaca ou manga, pra achar a fruta mais gostosa, sentar na forquilha da árvore, saborear a fruta sem preocupação com nada mais no mundo.

Ficava com febre "de garganta" por ter tomado banho de chuva, ou porque ficou muito tempo com a roupa molhada depois de tomar banho no rio. Chegava em casa e, como castigo, tinha que tomar remédio amargo e injeção, que o tio da farmácia aplicava. Reclamava, chorava de dor, mas tomava um prato de canja de galinha e já estava bom.

Ia para a escola, cortava caminho no quintal do vizinho, que tinha aquela tábua solta, pulava os trilhos do trem e chegava junto com a "Tia". Dava hora do recreio, ia para o pátio brincar de pique-pega, pique-parede, pular corda, queimada, pega-bandeira ou pelada. A molecada voltava pra sala toda suada, mas ficava de pé, quando a "Tia" entrava na sala, em sinal de respeito.

Vivi isso tudo, e muito mais. Estou vivo e aprendi a respeitar pai, mãe e professor. A criançada de hoje não sabe a textura da terra molhada de chuva ou da casca da árvore. Acha que leite é feito em fábrica e que professor é empregado. Fica trancado em casa com os cacarecos eletrônicos, pula e saracoteia, mas não sabe qual é o cheiro da grama orvalhada, ou da flor de café, quando esse entra na florada. Não conhece a suavidade de uma flor de laranjeira, ou a sensação de ver o mundo do alto do "pé de fruta". 

A geração de hoje não vive. Apenas finge.