segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Medo...

Tenho medo do ser humano. Tenho medo de SER humano. É isso mesmo que você, leitor e visitante, acabou de ler aqui. Tenho MEDO!

Mas ai, lá vem você e fala que “somos feitos à imagem e semelhança de Deus”, que somos todos irmãos, que estou nivelando tudo por baixo. Tudo bem, não tiro sua “razão” por pensar assim: Mas tenho motivos para crer que, infelizmente, somos apenas a imagem, pois o interior é algo totalmente oposto.

Se você já assistiu ao filme Matrix, deve lembrar-se de uma determinada passagem em que o Agente Smith, em um momento de tortura psicológica com o líder da resistência, Morpheus, faz uma análise do que é a humanidade, de seu ponto de vista. Para ele, somos como um vírus, um parasita, que infecta um determinado sistema, se espalha rapidamente, suga todos os recursos e, quando este sistema não mais o supre, segue adiante, muito parecido também com nuvens de gafanhotos.

Você pode achar que estou exagerando. Mas uma espécie que rouba sem necessidade, seja em bens palpáveis ou por corrupção, depreda o próprio meio sem pensar nas conseqüências, mata, seqüestra, explora e escraviza seria MESMO merecedora de todos os méritos divinos?

De forma geral, com certeza não. Somos uma espécie burra, que causa males a si própria, que se droga e não preza pelo seu próprio bem-estar, ou do bem-estar daqueles que nos rodeiam.
Tenho medo. Medo de um dia cair na tentação de uma dessas terríveis prerrogativas humanas.


Eu não sou perfeito, fato. Mas tento, a cada dia, olhar para cima e tentar enxergar um sentido nisso tudo. Tenho medo de que tudo isso venha a ser uma exigência humana à sobrevivência. Tenho medo de que, num futuro próximo, sejamos condicionados a aceitar a corrupção, a desigualdade, a morte a troco de nada, a covardia e tudo o mais de ruim ainda dentro do ventre materno. Tenho medo do tipo de herança que deixaremos para os nossos filhos e netos. Tenho medo. Muito medo.

Quando ando pelas ruas vejo a miséria, a fome, a desesperança. Vejo péssimos exemplos do quanto somos sujos, invejosos e impuros. Temos muito a evoluir, mas parece que por sobre nossas cabeças, paira uma nuvem de conformidade, de pessimismo. Me dói quando vejo um ser humano largado ao relento, seja entregue às drogas ou simplesmente á própria sorte. São as maiores vítimas de um “efeito borboleta”: em algum lugar do passado, algum político corrupto usou uma verba possivelmente assistencial para suprir sua ganância. Talvez aquela verba tivesse sido empregada em algum projeto educacional que, possivelmente, teria evitado que aquele ser humano, travestido em farrapos, tivesse uma vida mais digna, um futuro menos sombrio e de fim tristemente previsível.

Tenho medo, mas também tenho um pouco de alívio e muita vergonha. Principalmente quando penso “que sorte, não sou eu que estou nessa situação”. Tenho medo e tenho vergonha, quando penso em ajudar, mas não ajudo. Vergonhosamente, tenho medo de ajudar por causa da sociedade. É comum que se feche os olhos aos irmãos mais necessitados, ainda que a ajuda fosse pequena. Vergonhosamente, tenho medo do que podem pensar de mim. Podem achar que faço apenas para aparecer perante os olhos alheios, ou apenas para “ganhar uns pontos no céu”, como já ouvi. Tenho vergonha de admitir que, muitas vezes, pude ajudar mais do que pensava, mas não o fiz. Tenho medo de ser um pária aos outros, conformados, cegos pela nuvem de maldade, frieza e covardia que paira sobre nossas mentes.

Tenho medo do que vão pensar de mim após ler isso aqui. Mas tenho ainda mais medo de me transformar em mais um zumbi conformado.